"Eu não interpreto sonhos, eu recebo sonhos"
Ailton Krenak

Sonhei o Altar,
e nele coloquei todos os corações
que já me tocaram,
desde os que me deram a vida,
aqueles a quem doei vida.
Aos que foram só um sorriso,
e aos que têm morada permanente nesta luz.

Coloquei flores
que representam a cor, os cheiros e a impermanência de tudo,
Coloquei as pedras duras e afiadas
pelo que me ensinaram até agora,
Coloquei ramos de árvores centenárias,
para contemplar a sua sabedoria,
Coloquei uma pena,
para me ensinar sobre a leveza e o voar,
Coloquei os meus medos,
para não me esquecer de os olhar nos olhos,
Coloquei um abismo,
para me ensinar sobre a coragem e a fé,
Coloquei uma flauta,
para o bailado das Fadas,
Coloquei musgo macio,
para me entregar em completa rendição,
Coloquei búzios,
para poder escutar as ondas do mar,
Coloquei os meus véus e neblinas,
para que sejam dissolvidos,
Coloquei o meu tear encantado,
onde tenho tecido as vestes que quero levar para o Outro Mundo,
Coloquei o cálice,
da água límpida da Alma,
Coloquei esta demanda, que é a Vida... E quando abraçei o Altar...

Todos os elementos que coloquei neste lugar sagrado,
abriram asas de borboleta,
e voaram para dentro de mim... Recebi este sonho...
e as asas que agora habitam em mim,
levam-me desde aqui, até aos recantos mais misteriosos que já vi...

Talvez todas as histórias, todas as lendas e todos os sonhos contados em círculos, ao longo dos milénios, sirvam para que nós, Seres Humanos, não nos esqueçamos da matéria primordial de que somos feitos.

Ao redor de uma fogueira, com o brilho do avô fogo, somos todos iguais, estamos todos à mesma distância do centro e, enquanto um sonho é desvelado...ressoa na nossa memória galática uma linguagem universal.
Aquela que nos permite comunicar com a Terra que sustenta o nosso corpo, com as Águas dentro e fora de nós, com a Águia que voa alto em espiral levando as nossas mensagens aos irmãos que habitam nas estrelas, com o Lobo que se junta a nós e nos traz a sabedoria de viver harmoniosamente na alcateia, com o Veado que nos ensina a delicadeza de pisar a terra, quando é tempo de correr ou de ficar imóvel, com o Cavalo que nos traz a liberdade no som das patas de um galope, com a Serpente que nos ensina a largar a pele já ressequida, para que uma nova possa nascer, com o Carvalho que nos mostra as raizes profundas e os ramos fortes que crescem na direção do Céu, com as pedras e as rochas que guardam as memórias de tudo o que já viram... e com todos os outros Seres, que são criações e manifestações do Grande Espírito, aqui em Gaia.

Todos são animados por um Brilho, uma Luz, que dá Vida a um corpo.

Se imaginar, que vinha de uma outra realidade e, de repente, pousava aqui neste pontinho azul e verde da Via Láctea...olharia à minha volta...e, certamente, ficaria extasiada com este mundo tão belo!!!
Foi o que fiz, e .... com o mundo inteiro dentro de mim... dancei pela primeira vez na Terra...

Se quando olhássemos os outros víssemos as suas cores, as suas nuances e matizes, poderíamos fazer arte a cada instante...
Veriamos o Laranja, da criatividade, da alegria, da dança, da expansão e do prazer.
O verde da harmonia, do equilíbrio, do amor ao próximo, da cura e do perdão.
O Amarelo da razão, do conhecimento, do poder pessoal, do sol interior e do otimismo.
O Rosa do amor, da fé, da gentileza, da compaixão e da ternura.
O Azul da comunicação, da paz, da sinceridade, de dizermos o que somos através das palavras.
O Vermelho da paixão, da sexualidade, da energia vital, do entusiasmo, da garra e das raizes na terra.
O Violeta da espiritualidade, da intuição, dos sonhos lúcidos, da imaginação e das viagens a outros mundos.
O Dourado e o Prateado, a União de Deus e da Deusa em cada um de nós... Se víssemos as cores...o mundo inteiro seria bem mais colorido...
E, quando nos olhássemos...veríamos uma obra prima !