Escrevi esta história para o meu filho, que me pediu uma história... de uma aranha!
Nota: Qualquer divulgação, deverá sempre respeitar a autoria da história.
A pequena aranha nasceu. Enroscou-se imediatamente na sua mãe. Sentiu o calor do seu corpo e um cheiro intenso a terra molhada. Tinha chovido recentemente e a teia tinha pequenos pingos de água, que reflectiam mil cores. Um pingo escorregou pelos fios habilmente esculpidos pela mãe e a aranha sentiu o fresco da água no corpo. Soprava uma brisa amena que vinha das montanhas e deixava no ar o aroma das florestas. A teia balançava suavemente e a pequena aranha acabou por adormecer...
De repente, sentiu um calor intenso. Viu então que caminhava sobre areia. Dunas e dunas a perder de vista. Douradas, escaldantes, sob a luz intensa do sol. O deserto! A pequena aranha sentiu-se desorientada. Que vastidão. Em que direcção deveria seguir?
Foi então que ouviu uma voz atrás de si:
- Andas perdida? Precisas de ajuda?
Voltou-se e viu um grande lobo branco. Estava sentado, tinha uns olhos cinzentos, profundos, que olhavam atentamente a aranha. Foi novamente o lobo que falou:
- O deserto é grandioso. Tens ideia de qual o caminho a seguir?
Não, não tenho – respondeu a aranha. Nem sei muito bem porque estou aqui. Nem para onde vou…
Acabaste de nascer – respondeu o Lobo. Esta é a tua primeira travessia. Eu estou aqui para te ajudar. Sou o Lobo Branco do Deserto e serei o teu guia. Para nos orientar teremos sempre a estrela polar. Quando olhares o céu e vires uma estrela grande, maior que todas as outras, mais brilhante, mais quente e que atrai o teu olhar como um íman… é ela de certeza. Segue sempre o caminho que a grande estrela te indicar.
A aranha ouviu atentamente.
Está bem – respondeu. Mas qual é o meu destino? Eu nem sei para onde vou!
- Tens de encontrar os 3 oásis perdidos. Cada um deles tem escondido um dos segredos da vida – disse o Lobo.
E continuou: está a começar a escurecer, olha para o céu e vê se consegues perceber qual a direcção a seguir.
A pequena aranha olhou para cima. Sentiu-se minúscula, esmagada pela imensidão do universo.
Procura o teu ponto de luz, o teu ponto de partida, lembra-te sempre que fazes parte deste mundo sem fim – sussurou o Lobo.
E a aranha percebeu. Olhou de frente para a grande estrela. Não havia a menor dúvida: era aquela!
E, a partir daquele instante, teve a certeza que havia de ter sempre aquela guia, luminosa, que a orientaria lá do alto.
A aranha e o Lobo caminharam lado a lado durante toda a noite e, quando a madrugada se transformava em dia claro e o sol já queimava, o Lobo parou no alto de uma duna.
É tempo de encontrares o primeiro dos 3 oásis. Já estamos muito perto – disse.
A aranha olhou em seu redor. Ao princípio não conseguiu avistar nada, a não ser mais e mais areia. Apurou a visão o mais possível em todas as direcções. Foi então que parou, olhando para sul: tinha à sua frente o castelo mais belo que poderia imaginar!
Feito totalmente de areia, mas mais dourada e reluzente que a areia do deserto. Erguia-se imponente. Tinha 4 torres encimadas por belas estátuas de figuras humanas, todas elas com os braços erguidos e tendo nas mãos um sol, no qual estavam gravadas algumas frases.
A aranha e o Lobo estavam agora muito perto dos portões do castelo. Abertos de par em par, convidavam a entrar. E, instintivamente, a pequena aranha percebeu, ao atravessar a sua entrada, que aquele lugar era único… percebeu que pisava solo sagrado!
Parou no meio de um grande jardim no interior do castelo. O jardim estava cheio de plantas, de árvores e de cascatas de água fresca. À sua volta, estavam as 4 torres, cada uma com o seu sol e as suas inscrições gravadas numa língua antiga.
O 1º oásis guarda o 1º segredo que terei de desvendar – pensou a pequena aranha.
Como que adivinhando o seu pensamento, o Lobo, virando-se para a torre que estava mais perto deles, disse:
- É aqui que poderás aprender alguns dos ensinamentos que deverás guardar durante toda a tua vida. Não te esqueças deles nunca. Cada sol te dirá um pouco de um grande segredo. Se o entenderes bem, terás um dos maiores tesouros da vida.
E continuou:
O 1º Sol diz para nunca te esqueceres de apreciar e amar o seu calor… e a sua luz
O 2º Sol diz para nunca te esqueceres de apreciar e amar as florestas da Terra
E o 3º Sol diz para nunca te esqueceres de apreciar e amar os oceanos da Terra
E o 4º Sol diz para nunca te esqueceres de apreciar e amar todos os outros habitantes da Terra
O 1º segredo pequena aranha – esclareceu o Lobo – é para aprenderes a respeitar a Mãe-Natureza que te rodeia e todos os habitantes da Terra. Nunca te esqueças deste ensinamento.
Nunca o esquecerei – respondeu a aranha.
Hoje vamos descansar e apreciar a beleza do castelo e do seu jardim. Partiremos mais tarde em busca do 2º oásis – disse o Lobo.
No dia seguinte prosseguiram a caminhada. Depois de andarem o dia inteiro, avistaram 2 montanhas: uma grande, íngreme e muito alta. Outra mais pequena, de areia e que parecia muito mais fácil de subir.
O Lobo voltou-se para a aranha e disse:
- Tens 2 montanhas à tua frente. É este o 2º oásis, pequena aranha. Olha atentamente para elas e diz-me qual delas vais querer subir.
A aranha olhou as 2 montanhas. Achou completamente impossível conseguir subir a montanha mais alta. Era enorme, muito inclinada e agreste.
Vou subir a montanha mais pequena – disse a aranha e, determinada, iniciou a escalada.
Mas, assim que começou a tentar subir, as suas pequenas patas escorregaram na areia. Quanto maior o esforço para subir, mais escorregava. Ao fim de algum tempo estava exausta. Descansou um pouco e tentou novamente. Ainda pior! A areia começou a cair do alto da pequena montanha e tapou completamente a pequena aranha, que se viu aflita para sair dali.
Voltou para junto do lobo.
Não consigo – disse desanimada.
O Lobo olhou-a demoradamente:
- Tentaste subir a montanha mais pequena, porque julgaste que era mais fácil. Achas que por seres pequenina, não consegues subir a montanha mais alta. Pois eu digo-te: vamos subir a montanha grande juntos. Vais ver que consegues e lá em cima terás uma surpresa!
E o Lobo começou a caminhar seguido da aranha. A subida foi difícil, mas o lobo foi encorajando a aranha, ajudou-a nos sítios mais difíceis e, depois de uma longa escalada, chegaram ao topo. A pequena aranha estava muito cansada, mas sentia-se a maior do mundo !
Consegui – disse entusiasmada. Tinhas razão Lobo do Deserto. Estou no topo da grande montanha. Obrigado pela tua ajuda.
De nada ! – exclamou o Lobo. Achavas impossível subir esta montanha gigantesca e, no entanto, conseguiste. Às vezes escolhemos o caminho que parece mais fácil e afinal essa não é a estrada certa a seguir.
É preciso ACREDITAR REALMENTE que conseguimos fazer as coisas, mesmo que ao princípio pareçam impossíveis…
É este o 2º segredo que deverás sempre lembrar durante a tua vida !
Nunca o esquecerei ! – respondeu a aranha, olhando o céu.
Já percebeste qual é a surpresa de que te falei? – perguntou o Lobo. Olha atentamente o céu.
A estrela polar ! – exclamou a aranha. Estou tão perto dela! Parece que se me esticar muito, muito, consigo tocar-lhe.
É verdade – disse o Lobo – vês como valeu a pena o esforço da subida? !
Vá, agora vamos descansar. Amanhã teremos que encontrar o 3º oásis.
A aranha olhou mais uma vez a grande estrela guia. Sentia-se muito feliz e adormeceu rapidamente debaixo de um céu cheio de estrelas.
No dia seguinte partiram novamente. A pequena aranha gostava muito da companhia do Lobo. Era um verdadeiro amigo e ela começava a aprender o valor inestimável de uma amizade.
Conversavam animadamente, quando de repente, começaram a ouvir uivos de lobos ao longe.
Não te preocupes – disse o Lobo – estamos já muito perto do 3º oásis.
A pequena aranha viu então, lá ao longe, um grande lago de água brilhante, rodeado de árvores e plantas rasteiras. Vagueando por este oásis havia vários lobos.
É a minha alcateia – disse o Lobo do Deserto – aguardam o meu regresso.
Os lobos reuniram-se em redor do lago e deram as boas vindas ao seu líder e à pequena aranha.
Sê bem vinda ao 3º oásis, esperemos que aprecies a tua estadia connosco. Preparámos um jantar para celebrar o regresso do Lobo Branco. Junta-te a nós – disserem os lobos.
Muito obrigado – respondeu a aranha.
O jantar decorreu alegre. O Lobo contou algumas das suas muitas aventuras. Os lobos estavam contentes por ele ter voltado, apreciavam a sua companhia e sabedoria.
Nessa noite, quando a aranha já estava muito cansada e quase a dormir, o Lobo segredou-lhe ao ouvido:
- O 3º segredo, pequena aranha, é conseguirmos VER as coisas importantes, aquelas que não se vêem com os nossos olhos. Na nossa alcateia unem-nos laços de amizade e de entreajuda muito fortes. O nosso grupo é muito importante para cada um de nós. O amor das mães para as suas crias é infinito. Todos estes sentimentos não se vêem, só se sentem. O mais importante de tudo é aprenderes a viver através do coração. É como o vento que sopra. Não o vês, mas podes senti-lo! Boa noite, pequena aranha, sonhos de todas as cores!
A aranha acordou ! Ainda sonolenta, espreguiçou-se e olhou à sua volta.
Não viu o Lobo, nem a alcateia, nem o oásis...
Estava, isso sim, ao colo da sua mãe, na teia onde nascera!
Mãe – disse ela – voltei! Estou outra vez ao pé de ti! Nem me lembro como cheguei até aqui novamente. Tenho que te contar as minhas aventuras.
Meu Deus – sorriu a mãe – que aventuras? Tu estiveste sempre aqui ao pé de mim!
Não estive não – indignou-se a aranha – andei pelos 3 oásis perdidos, a aprender os segredos da vida com o Lobo Branco do Deserto.
Ah! O Lobo do Deserto, esse grande amigo… – disse a mãe.
Tu conheces o Lobo, mãe? – pasmou a aranha.
Claro, meu filho – respondeu ela – quando eu era pequenina, o Lobo também me acompanhou em sonhos, nas minhas aventuras pelo deserto, também me ensinou os grandes segredos da vida. O Lobo é um Grande Sábio. Nunca te esqueças do que ele te ensinou. E, quando fores grande, vais ver que os teus filhos também hão-de conhecer o Lobo. Ele gosta muito de ensinar as pequenas aranhas.
E agora, vamos até à beirinha da nossa teia ver o nascer do sol. Vais ver que vais adorar...
Autoria: Elsa Santos